Como já dizia Raul Seixas: "Todo homem, toda mulher, é uma estrela". Não, não estou a fim de engrandecer as pessoas, muito menos você. A intenção é salientar a incrível potencialidade de criação que as pessoas possuem. Existem casos em que o indivíduo é mesmo um néscio, sem capacidade alguma de transmitir, seja um pensamento, um sentimento, uma ideia, enfim, qualquer coisa do seu interior, tanto que passa a reproduzir a “cultura” – se é que podemos chamar assim – comum. A coisa mais comum hoje em dia é ouvir frases de programas de televisão, exatamente como foram ditas, em todos os contextos, o que realmente não faz o menor sentido. Exemplo? “Ronaldo”. Creio que fui claro nesse ponto. Bem, a culpa não do indivíduo exatamente. Há muitas barreiras ultimamente no que diz respeito a expressar a opinião própria.
Seguindo o raciocínio, a maioria das pessoas realmente tem algo, por mais fútil que seja, por mais pessoal, canalha, imoral, enfim, todos possuem algo. A grande dificuldade está em transmitir. Por exemplo, não foram poucas as vezes que imaginei melodias, com a ideia de arranjos, letra, musicas completas. É genial, pensei muitas vezes, no entanto fui tentar escrever tudo, mas não saiu nem a metade da “grande obra”, apenas o esqueleto esboçado.
O ponto onde quero chegar é o seguinte: Todos deveriam se esforçar para produzir algo. Todos possuem alguma potencialidade, e por mais inútil que seja todos deveriam expor suas ideias. Ultimamente a possibilidade – grande – de morrer sem deixar nada, nem mesmo um pensamento, vem me torturando. É óbvio que o mesmo acontecerá, um dia ou outro, porém é sempre bom tentar. Sabe-se lá quanto potencial pode haver em uma pessoa que se omite, guardando para si tantos pensamentos.
A grande e primeira crítica, creio eu, a esse pensamento é de que, se o pensamento, a ideia ou o conteúdo em si for realmente uma droga, uma nulidade, sem propósito, totalmente errôneo, não será valido. Muitos me dirão que, “há pessoas que devem ficar de bico calado”. Pois eu digo que, há pessoas que apenas não devem ser sectárias, pois o debate é sempre saudável e a discussão cria novas hipóteses. A algo melhor que a gênese de novos conceitos? Há, claro, quem prefira o comodismo à evolução. Nesse caso não há muito a ser discutido. Meu humilde escrito percorre ao lado do pensamento, em que o progresso, a edificação do conhecimento e a criação de novas idéias e conhecimentos, são fatores imprescindíveis para a construção do caráter e a evolução geral, por mínima que seja. Explicarei então sobre isso.
A dialética, um método dialógico – resumidamente, grosso modo, criado por Sócrates, desenvolvido por Hegel e depois analisado, criticado e reformulado por Marx – que vai dizer que a contradição de idéias, gera uma nova. De um lado uma tese, do outro uma anti-tese, e com o choque das duas, através das “contradições dialéticas”, há a gênese de uma síntese. Essa por sua vez, torna-se uma tese novamente, que será confrontada por uma nova anti-tese, gerando uma ou mais novas teses.
Relacionando agora com as minhas idéias, imaginamos de um lado, um indivíduo, aquele da opinião cretina, ou totalmente idiota – considerando que todas as pessoas são no mínimo um pouco idiotas – e do outro lado qualquer outro sujeito, com uma anti-tese, ou seja, qualquer pensamento que contraponha a opinião cretina. Considerando que eles tenham a capacidade de discutir sem serem sectários, e expor suas idéias tais quais estão na suas mentes pretensiosas e abiloladas, alguém vai “vencer” o debate. Lembrando novamente: “sem sectarismo”, alguém vai sair com a “verdade” (a grande questão filosófica pela qual a dialética é usada). A concepção de que, “nada é, e sim está”, nos afirma isso. Na pior das hipóteses, os dois indivíduos continuarão com suas respectivas opiniões, no entanto, no mínimo, um deles vai passar a considerar as idéias do outro, veja bem, no mínimo. Isso é verdade, por mais que se neguem a acreditar. Você mesmo, nesse instante está passando a considerar tudo o que eu escrevi. Pode estar discordando, com certeza, mas ao menos pensou nisso, o que já é algo novo para você – a menos que já tenha pensado em tudo isso exatamente igual a tudo que eu coloquei -, o que já colocou em prova seus dogmas ou alguma concepção pré-estabelecida em sua mente. Essa é a nossa amiga dialética, ela move o mundo, tanto no campo ideológico, quanto no material, e não, não estou inventando. Não é viagem minha. Isso é milenar.
Segundo Heráclito o ser humano não possui estabilidade, condizendo com a ideia já colocada de que “nada é, tudo está”. É dele a famosa frase “um homem não toma banho duas vezes no mesmo rio”. Nunca iremos banharmos no mesmo rio duas vezes, pois após o primeiro contato, não seremos mais os mesmos, nem o rio. A metáfora do rio é totalmente eficaz nessa perspectiva, pois o rio é um, é ele mesmo, no entanto está sempre se modificando, sempre com novas águas.
Após todos esses argumentos pra confirmar a aplicação da dialética no nosso contexto, posso terminar usando um dos conceitos de Rousseau, quem defende o direito de cada cidadão se expressar. Todos têm direito de dar sua opinião, o que eu complemento, dizendo que a construção da humanidade, a mudança, a transformação, está nessa exposição de opiniões, no confronto delas e nas suas novas hipóteses edificadas. Pouquíssimas pessoas aceitam uma discussão sobre política, ou religião, por exemplo, pois sempre gera um grande debate, no entanto ouvimos facilmente diálogos sobre a “novela das 8”. Sejamos corajosos ao expor nossas idéias, ao criar algo, produzir, enfim, essa é a minha opinião. E a sua?
OBS: Como já disse um ótimo professor meu, “sejamos radicais”, sim, por que não? A discussão é saudável, “porém jamais sejamos sectários!”
A necessidade de criar algo é partilhada por poucas pessoas que necessitam extravasar o seu pensamento que por vezes é maior do que podem aguentar calados.
ResponderExcluirA discusão sempre é valida e sobre qualquer assunto. Porem á os ignorantes com os seus dogmas idiotas e fechados que ficam cegos e não aceitam nenhuma opinião contraria as suas.
Eu estou sempre certo, não sei voces.
Ah necessidade de craição, especialmente artistica,como lí certa vez vem do caos. Quem tem o caos dentro de sí é capaz de criar.Mas quem quer dar voz as suas incertezas?
ResponderExcluirTodos tem a capacidade de criação, alguns usam, outros simplesmente a ignoram, tendo em mente que é mais facil ter tudo ja em mãos!
ResponderExcluirAcho que a criação depende muito de opiniões não só proprias, mas tambem de quem esteja disposto a discutir e abrir um dialogo por mais diferentes suas ideias!
muito bem
ResponderExcluireu digo isso sempre
que todo mundo é capaz
só não é capaz quem diz que não é capaz, e no seu inconsciente acredita ser incapaz
haha
Eu acho que todo mundo tem que se expressar sem medo de não agradar ninguém,seja em uma roda de conversa ou no meio artistico,afinal somos o que somos nem mais nem menos,ou gosta ou não gosta, melhor ser uma pessoa com um caráter transparente,onde todo mundo sabe como você é e o que pensa, vai te ama ou odiar por isso,pior é tu nunca expressar sua opinião e se esconder na sombra dos outros e ninguém vai saber ao certo quem você é , se tornando assim uma pessoa em que ninguém vai confiar.
ResponderExcluirBueno, o convite a leitura, vem seguido do convite ao comentário, algo esperado pós tal texto. De muito bom gosto, e conteúdo, indo bem de encontro ao que eu acredito, o que me obriga a repetir a minha tão querida frase: "não somos obrigados a aceitar nada, apenas tentar compreender". Confesso que, depois dessa leitura, quase me atrevo a modificá-la, ao invés da última palavra, colocar "dialogar". Infelizmente ainda há muito medo de se tocar em determinados assuntos, medo este, como que se apenas o ato de ouvir fosse um vírus infeccioso... mortal... Palavras, se tu achar que elas não possuiem sentido, realmente, no mínimo tu apenas saberá que existe um novo posicionamento referente a tal tema...Elas não têm um poder tao devastador como os efeitos colaterais dos cogumelos, por exemplo, aqueles contados pelo nosso caro Paulista...
ResponderExcluirEdipo Djavan
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ResponderExcluirNa tentativa realizar uma análise hermenêutica referente a epistemologia da temática hora elencada pelo texto do Marginal Gian.... Zuera.. Desse palavriado ja chega nossas leituras obrigatórias.
ResponderExcluirO que eu tenho para dizer é o seguinte: Excelente texto. Compartilho dessa opinião e vou além. Como bem dito pelo Gian, a troca de experiências, pensamentos e posições nesse caso através da linguagem, inevitavelmente criará dois novos sujeitos. Mesmo que fundamentalmente nenhum dos dois mude. O apego consiste no medo da mudança, pois mudança é morte. Os que não admitem se quer ouvir uma posição contrária se deixam vencer pelo medo da morte. Esquece-se que ao mesmo tempo em que um morre outro nasce. Quando estamos dispostos a mudar nos transformamos constantemente em novas coisas, novos EU's, melhores e mais sábios. Mudar de opinião constantemente. Deixar que bons argumentos convençam sem medo, acredito que o caminho seja nesse sentido. Não quero entrar em um debate filosófico aqui, mas, uma vez me foi dito que não existe verdade absoluta. Porém existem fragmentos de verdade. Quanto mais você conhece, mais atentamente você consegue identificar os fragmentos da verdade. O treino em ouvir faz com que as pessoas ajustem o filtro. Se você não sabe nada de futebol logo vai acreditar em qualquer lorota que contem sobre, agora quanto mais conhecimento você possuir mais poderá selecionar o bom, a verdade. Por isso eu gosto do modelo dialético de pensar. Não linear. A mente da saltos, combina verde com salgado e dai surge coisa nova. Dialética, pura Criação. Depois escrevo sobre produtividade pra não fica muito longo =D
/\ Ass. paulista
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Cara ainda olho por causa do Pac Man!!
ResponderExcluirMas assim velinho tirando umas coisinhas foi o melhor texto que tu escreveu nessa bagaça concordo quase que totalmente com oque tú expõe principalmente na parte final.
E assim pelo amor de Deus pega e faz uma porra de Facebook e vai nas discuçoes do nosso grupo!
By: Fidel
É bom ler texto de historiadores e amantes de música que tratam de assuntos cotidianos de modo sério, com reflexões filosóficas. Já expressei, com Bauman, de que "Zwei" e "Zweifel" mantém um parentesco para além da etimologia e da aliteração. Tese e antítese em contraposição podem levar a construção de muitas novas teorias e ideias. Somente assim a ciência avança. Somente assim nós avançamos. Na contraposição, sempre esperamos uma nova síntese, também esta provisória. Afinal, "não há fatos, há apenas interpretações" (NIETZSCHE). Não há essência, nem ser, o que há é o pedido para ninguém exija de que sejamos sempre os mesmos (FOUCAULT), pois manter a ordem é coisa de polícia, o que queremos é ser apenas, isto mesmo, apenas "metamorfose ambulante" (SEIXAS). Fábio.
ResponderExcluirpoder se expressar livremente seria perfeito. Digo, mesmo que respeite as opiniões alheias em busca de entendimento sobre as coisas, sei que no final muitas vezes não nos correspondem da mesma forma. Com o passar do tempo a gente passa a guardar mais essas opiniões e expressar menos isso, e deixar que os outros passem a achar que são os únicos certos. No final isso faz uma sociedade homogênea e autoritária onde todos que mandam pensam e agem do mesmo jeito. Mas onde as opiniões de alguém podem e provavelmente serão usadas contra a própria pessoa.. acaba sendo mais seguro ficar quieto, infelizmente
ResponderExcluirÓtimo texto, Gian! também compartilho a ideia de que a dialética cria, transforma, dá sentido a racionalidade e sociabilidade humana. Entretanto, na minha opinião, a dificuldade de expressão está estritamente ligada a banalização do pensamento, da alienação provocada pela maioria dos meios de comunicação, os quais não possuem o menor interesse de construir uma sociedade pensante. Concordo quando dizes que todos tem algo a expressar, mas acho que o fato da maioria daqueles que não expressam por que não querem ou não ligam para isso vem de uma vida sem incentivos, tendo o comodismo como algo normal e vendo aqueles que expressam seus pensamentos como chatos. Sempre bato nessa tecla e acho que todos sabem disso: a educação faz parte dessa trajetória. Enquanto não houver mais incentivos à educação e à cultura em geral, essa situação vai continuar.
ResponderExcluirBah achei bacana o seu texto, só que há alguns detalhes tais como a sociedade de hoje em dia movida pelo consumismo nos aliena fazendo com que não sejamos capazes de pensar talvez pelo comodismo, outro fator é que há ainda para determinados assuntos um certo preconceito e no meu ponto de vista devem ser derrubados, para que sejamos capazes de ter plena liberdade de expressão
ResponderExcluirparabéns,noto a evolução dos teus textos, cada vez mais claros e concisos.
ResponderExcluirMuito Obrigado!
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