Quando falamos em “Muralha da China”,
“Pirâmides do Egito”, ou “Jardins Suspensos”, o positivismo nos impõe a ideia
de empreendedorismo, “grandes monumentos = prosperidade” etc. Prosperidade sim,
mas a que custo? A grande Muralha da China foi construída, sem dúvida, num
período histórico no qual o governo chinês disponibilizava de muita gente
(leia-se mão-de-obra) e muito recurso para a construção dessa gigante proteção
nos arredores do território. No entanto muitas vezes não conseguimos ver o
outro lado da moeda, e é pra isso que estou escrevendo esse texto. Para que
vejam um lado diferente acerca desse monumento colossal, que se estende até os
limites da nossa visão, a Muralha da China.
Shi Huangdi, o poderoso (e absoluto)
imperador da dinastia Qin, conseguiu unificar o território chinês, doutrinou a
população (Taoísmo) e acumulou, em recursos, grande riqueza (bem como gastou
essa mesma). Apesar do que sabemos, de que havia terminado o período de
disputas entre povos pelo território, com ideias desmedidas, sem conseguir
ocupar o espaço de maneira com que pudessem governá-lo e administrá-lo, mesmo
no império, diversos conflitos bélicos ainda ocorriam, principalmente ao Norte
da China. A Mongólia, na época do início
da construção da muralha, estava ocupada pelos hunos, tribo bárbara
turco-mongol asiática nômade. Esses, dominando o uso do cavalo e do arco e
flecha se precipitaram sobre a China (mais tarde até sobre as muralhas),
infligiram vários danos aos chineses. Porém não só os hunos, como os próprios
mongóis, mais tarde iriam atacar diversas vezes o império.

A muralha chegou a empregar cerca de
um milhão de trabalhadores – equivalente a mais de um quinto da mão-de-obra chinesa – no auge do empreendimento. Esse
número também é a quantia de pessoas que abandonaram suas vidas, seus
trabalhos, seus sonhos – que até mesmo pararam de produzir recursos para o
império (agricultura) – para dar vida à obra mirabolante do imperador.
Trabalhavam como operários homens, mulheres, crianças e idosos. Essas crianças
não tiveram infância; muitos jovens nunca mais retornaram para o que chamavam
de casa. Estima-se que tenha perecido até 80% da população empregada na
muralha, entre esses: soldados, camponeses e prisioneiros. Quem tentava fugir
morria. Quem não resistia à fome morria. Quem não aguentava a severidade do
frio, morria também. Os corpos eram enterrados na muralha (cuja sustentação era
feita à base de barro socado), tornando essa um longo túmulo que cerca o país
até hoje. Quem sabe se não há fantasmas de um passado negligente com o povo,
que assombram os arredores até hoje?
A questão é: a que custo Shi Huangdi
começaria o projeto, que hoje conhecemos como “A Grande Muralha da China”?
Quantas vidas? Quanto trabalho? Quase 10.000 quilômetros de muro (mais que a
largura dos Estados Unidos). E os gastos exorbitantes para satisfazer a vaidade
do primeiro imperador? Aliás, além da muralha, pode entrar na conta, a
construção do Palácio Imperial Chinês de Mukden e o mausoléu de oito mil
soldados feitos de terracota, em tamanho real, contando até com a cavalaria
chinesa. Devemos considerar também, que na dinastia Han e mesmo posteriormente
o projeto continuou, cercando toda a
China.
Apesar de ser um marco cultural, e uma
defesa militar importantíssima, será que a muralha valeu todas as vidas? Há
quem diga que sim, mas será que os que morreram por ela pensavam o mesmo? E as
Pirâmides do Egito? Hahaha, sabe-se lá que infernos passaram essa gente ao
decorrer da história. Então aprendam a pensar sempre pelos dois lados. Isso vai
ajudá-los, mais do que possam imaginar.
Texto muito legal. Na história tudo tem NO MÍNIMO dois lados.
ResponderExcluirIsso mesmo. Valeu aí ;)
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