O consumismo está tão impregnado
na mentalidade da nossa sociedade, que nem ao menos nos damos conta, da real necessidade
do consumo para nossa sobrevivência. Segundo Bauman (2008) “o consumo é uma
condição, e um aspecto, permanente e irremovível, sem limites temporais ou
históricos; um elemento inseparável da sobrevivência biológica que nós humanos
compartilhamos com todos os outros organismos vivos.” (p.37), ou seja, o
consumo é trivial para nossa própria existência. O problema não se encontra no
consumo em si, e sim no habito compulsivo de comprar por comprar, sem atribuir
um verdadeiro significado àquilo que se compra, tornando o ato de comprar, uma
prática central na vida do homem. Na maioria das vezes até aplicamos àquele
produto um valor idílico, sem perceber a real utilidade do que estamos
comprando. Um carro é um veículo, um meio de transporte e não nego sua
importância, no entanto, esse mesmo veículo, hoje em dia, tem “incorporado” uma
grande importância na sociedade; atingindo um valor quase que surreal. Um
homem, na nossa sociedade ocidental, pós-moderna, não se torna um homem por
completo até adquirir seu carro. Deve, pelo menos, dirigir um, seja seu ou da
família. Isso não tem nada de novo no tocante às coisas atingirem um valor
monstruoso perante seu valor de uso. Karl Marx, em “O capital” explica esse
fenômeno como “Fetichismo da Mercadoria”.
O grande problema é que nos
encontramos em um momento histórico de incerteza e insegurança. Alguns
estudiosos definem como um período em que perdemos as maneiras de viver e nos
organizar como sociedade que tínhamos no passado, mas ainda não encontramos um
novo meio. Desde o declínio do modo fordista-keynesiano de regulamentação
vivemos em um período de incerteza e insegurança, onde nada é feito para durar
e a desregulamentação é o objetivo central do sistema econômico. Com o fim do
século XX a historia da humanidade chegou a um ponto em que estamos vivendo as
consequências de um mundo moldado pela economia e a ciência tecnológica
decorrentes do capitalismo. Hobsbawn (1995) afirma que “Não sabemos para onde
estamos indo. Só sabemos que a história nos trouxe até este ponto...” (p. 562).
O consumismo, fenômeno social
caracterizado pelo consumo compulsivo, já vem recebendo críticas, tanto no âmbito
antropológico, quanto no que diz respeito ao meio-ambiente. Um dos grandes
problemas é o fato do homem não identificar-se mais pelo seu trabalho, como um
trabalhador, pertencendo à classe proletária e sim pelo que consome. “Você é o
que você compra”. Além de perder totalmente a noção de classe e enfraquecer
qualquer luta e debates por direitos trabalhistas, trabalhamos sem nos dar
conta do que estamos fazendo no mundo de trabalho. Produzimos compulsoriamente,
alienados. Isso tudo acarreta em uma angustia, um mal estar social. Esse
primeiro problema está proporcionalmente ligado ao segundo, que diz respeito ao
consumo desenfreado. Somos encaminhados às compras diariamente através de meios
subliminares como propagandas e anúncios, utilizando de termos imperativos como
“compre, use, vista, parcele...”. Para preencher lacunas em nossas vidas,
problemas pessoais e sentimentais, compramos. Essa compra nos leva a perder a
noção do que realmente significa o que estamos comprando. A real utilidade de
um celular, por exemplo, já está quase extinta, pois não importa para a maioria
das pessoas. Cada vez mais, vemos crianças de 10 anos, usando seu Iphone, seu
netbook e similares e esse consumo indiscriminado nos remete ao descarte. Para
onde vão esses produtos? Produtos esses que são produzidos para não durar, para
serem substituídos.
Hoje em dia, posso considerar o
lucro como um inimigo da tecnologia, inimigo da tecnologia que nos proporciona
o verdadeiro bem estar. Será que certos bens de consumo, como por exemplo, os
carros, não poderiam ser desenvolvidos de maneira a propiciar altíssima segurança,
e incomparável à que temos hoje? Parece que é muito mais lucrativo distribuir o
conhecimento científico tecnológico aos poucos, em espécie de pequenas doses.
Uma pequena dose a cada três anos, fazendo uma nova versão de determinado carro.
Se eu adquirisse o carro perfeito hoje, porque eu o trocaria daqui a cinco
anos? As grandes corporações não estão interessadas em nenhuma questão social,
e o Estado, pelo que deixa transparecer, tampouco. Hobsbawn (1995) termina o “O
breve século XX” (1914 - 1991) com as seguintes palavras:
“Nosso mundo corre o risco
de explosão e implosão. Tem de mudar. [...] Se a humanidade quer ter um futuro
reconhecível, não poder ser pelo prolongamento do passado ou do presente. Se
tentarmos construir o terceiro milênio nessa base, vamos fracassar. E o preço
do fracasso, ou seja, a alternativa para uma mudança da sociedade, é a
escuridão.” (p. 562)
E aí?Triste né?
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Que seja produtivo! Maldito! hahaha