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quinta-feira, 19 de março de 2015

Democracia e intervenção


“O grande problema do nosso sistema democrático é que permite fazer coisas nada democráticas democraticamente;” 
José Saramago, El Correo de Andalucía, Sevilla, 11 de Março de 2003;


Democracia e intervenção. São assuntos sérios a se discutir nesse momento histórico pelo qual o país está passando; nesse momento onde todos resolveram exercer o papel de cidadão e levantar de suas poltronas que já não os aguentavam mais. Simplesmente parece que o povo ficou um tanto quanto empolgado com aquelas frases como: “O gigante acordou”, ou sensibilizados com o convite “Vem pra rua” após as manifestações de 2013. Empolgados a ponto de exacerbar seus direitos que repousavam por anos e sensibilizados a ponto de correr às ruas, desesperados, vomitando suas mágoas e seu mal-estar social, que aflige o brasileiro há muito tempo.
Surpreende ao mesmo tempo em que emociona ver uma nação unida, saindo às ruas, gritando em uníssono e enfrentando quem se puser no caminho de sua luta e de seus direitos democráticos, porém assusta e oprime compreender o rumo que essas manifestações tomaram após as últimas eleições. A internet e as redes sociais nos mostram, com diversos exemplos, a contradição que transitou nesse domingo do dia 15 de março.
Não foram poucos os casos em que militantes de esquerda foram hostilizados, mesmo querendo fazer sua crítica ao governo. Tampouco os casos de bandeiras representando e fazendo apologia ao nazismo. Enquanto o povo fazia sua manifestação apoiando-se na democracia e no direito para tal, uma parcela considerável pedia intervenção militar, “socorro ao exército”, e a volta da ditadura. Frente a isso, as conclusões e resultados não podem ser positivos.
É compreensível que o cidadão esteja farto da situação política do país. O povo já criou um estereótipo sobre o “político” que permeia o senso comum. Essa visão acerca do político – às vezes precipitada – carrega consigo as angústias do povo quanto ao roubo, corrupção, descaso e até desdém daqueles representantes eleitos. Ou seja, há um mal-estar social quase que generalizado sobre o brasileiro. O grande problema aparece no momento em que essas manifestações expressam um ódio que há muito tempo não era visto na sociedade; um ódio partidário; um ódio que oprime e exclui.
É incabível em nossa sociedade atual utilizar a democracia para atentar contra a própria. Para tudo há um limite. Para quem vive em sociedade, em um Estado democrático, não é diferente. Nas teorias de Estado mais primordiais consta, a grosso modo, que nesse momento de equilíbrio e de mediação que é o Estado, há a colaboração de todos para um bem maior; que todo o cidadão sai de seu “estado de selvagem” para um estado civilizado no momento em que deposita e abre mão de uma parte de seus direitos e de sua liberdade para conviver em um todo harmônico.
Democracia não significa ausência de leis, nem de limites. O cidadão deve agir de acordo com o sistema que defende, para assim poder defendê-lo. No caso: a democracia. O que falta é a capacidade do povo de intervir na política do país e criar esse hábito. Não esperar o mal-estar social se generalizar e pedir intervenção militar. É o cidadão que deve intervir dentro de um Estado democrático, para que haja então, uma verdadeira democracia, e não uma plutocracia.
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Que seja produtivo! Maldito! hahaha