O
povo caipira – erroneamente relacionado a um povo ignorante do interior, ou que
“fala errado” – é originário da região da Paulistânia, que engloba grande parte
de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, parte do Mato Grosso e o norte do Paraná.
Sua identidade é oriunda da miscigenação de diferentes povos e culturas.
Basicamente é o Paulista – português; bandeirante – misturado com o povo indígena.
Para Ribeiro “A miscigenação era livre, porque quase ninguém haveria, dentre os
homens bons, que não fosse mestiço” (p.333). Essa mistura surgiu na época
colonial, quando os índios eram os braços e as pernas dos sítios e vilas
paulistas, quando sua força de trabalho ainda era considerada importante no
fluxo da economia.
Nessas circunstâncias, o filho da índia escrava com
o senhor crescia livre em meio a seus iguais, que não eram a gente da
identidade tribal de sua mãe, nem muito menos os mazombos, mas os chamados mamelucos,
frutos de cruzamentos anteriores de portugueses com índias, orgulhosos de sua
autonomia e de seu valor de guerreiros. (RIBEIRO, p. 333)
Esses
chamados mamelucos deram origem a um povo que estava envolvido na mineração ou
nas bandeiras. Segundo Ribeiro “Desde as primeiras notícias dos descobrimentos
auríferos, multidões acorreram às áreas de mineração, vindas de todo o
Brasil...” (p.336). Essas multidões decaem em pobreza após a decadência do
ciclo minerador. Acontece uma regressão cultural e econômica. O povo
condicionado ao trabalho sofrido e compulsório em busca dos minérios, vai se
sedentarizar, regredindo de poderosos mineradores para fazendeiros, de
trabalhadores mais pobres para trabalhadores rurais. Escondem-se no meio dos
matos, procurando áreas de melhor cultivo.
Esgotado o impulso criador dos bandeirantes que se
fizeram mineiros, toda a economia da vasta população do centro-sul entra em
estagnação. Mergulha numa cultura de pobreza, reencarnando formais de vida
arcaica dos velhos paulistas que se mantinham em latência, prontas a ressurgir
com a crise do sistema produtivo. A população se dispersa e se sedentariza,
esforçando-se por atingir níveis mínimos de satisfação de suas necessidades.
(RIBEIRO p. 345-346)
Esse
povo alcança certo equilíbrio econômico, consolidando-se numa variante da
cultura brasileira. Essa variante é a cultura caipira, que identifica-se pela economia de subsistência, criação
de animais, produçãoartesanalde bens
de consumo, tempo reservado ao lazer, dialeto próprio... Segundo Ribeiro a
região da Paulistânia “se “feudaliza”, abandonada ao desleixo da existência
caipira”. Passa a inexistir um ciclo econômico vigente, bem como os latifúndios
agroexportadores. Até mesmo as roupas são confeccionadas à mão, resistindo às
manufaturas industriais. Não existe grandes mercados, nem nada que movimente o
fluxo econômico do país; A produção é estritamente de subsistência; O modo de
vida arcaico caipira nada lembra o modo de vida das cidades, cujo capitalismo
industrial predatório anda lado a lado com a modernização estrangeira, impondo
aos trabalhadores novas metas, horários, modas, ditando o ritmo de trabalho de
cada um.
Ao
contrário de que muitos pensavam, e ainda pensam, o povo caipira nada tinha de
“preguiçoso”, como Monteiro Lobato o descreveu. É claro que na mente de grandes
fazendeiros que, desejam incorporar o caipira em seus sistemas de terra e não
obtiveram sucesso, pelo fato do caipira ser desajeitado no tocante aos horários
e ao trabalho, vai haver um caipira extremamente preguiçoso, inútil, que só
traz prejuízo e ocupa as terras que poderiam estar lhe dando mais e mais lucro.
Acontece
que esse caipira desconhece esses sistemas, sendo que para ele, não há
necessidade de produzir mais do que o pão para o dia seguinte. Com herança genética
indígena, esse caipira costuma até ter horas de lazer, o que não existe na
mentalidade dos operários, por exemplo. Em síntese, a mentalidade caipira está
estritamente ligada ao seu modo de produção, que é totalmente arcaico, de
subsistência e até mesmo despreocupado. Não gera nenhum fluxo considerável no
comércio brasileiro. Diria até que, segundo o pensamento das elites, era uma
economia que desperdiçava porções de terras e pior, não participava do mercado
industrial e não comprava os bens de consumo do exterior, péssima economia para
as políticas do Brasil.
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Que seja produtivo! Maldito! hahaha