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domingo, 4 de novembro de 2012

A CULTURA CAIPIRA E SUA SIGNIFICÂNCIA ECONÔMICA



O povo caipira – erroneamente relacionado a um povo ignorante do interior, ou que “fala errado” – é originário da região da Paulistânia, que engloba grande parte de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, parte do Mato Grosso e o norte do Paraná. Sua identidade é oriunda da miscigenação de diferentes povos e culturas. Basicamente é o Paulista – português; bandeirante – misturado com o povo indígena. Para Ribeiro “A miscigenação era livre, porque quase ninguém haveria, dentre os homens bons, que não fosse mestiço” (p.333). Essa mistura surgiu na época colonial, quando os índios eram os braços e as pernas dos sítios e vilas paulistas, quando sua força de trabalho ainda era considerada importante no fluxo da economia.

Nessas circunstâncias, o filho da índia escrava com o senhor crescia livre em meio a seus iguais, que não eram a gente da identidade tribal de sua mãe, nem muito menos os mazombos, mas os chamados mamelucos, frutos de cruzamentos anteriores de portugueses com índias, orgulhosos de sua autonomia e de seu valor de guerreiros. (RIBEIRO, p. 333)

Esses chamados mamelucos deram origem a um povo que estava envolvido na mineração ou nas bandeiras. Segundo Ribeiro “Desde as primeiras notícias dos descobrimentos auríferos, multidões acorreram às áreas de mineração, vindas de todo o Brasil...” (p.336). Essas multidões decaem em pobreza após a decadência do ciclo minerador. Acontece uma regressão cultural e econômica. O povo condicionado ao trabalho sofrido e compulsório em busca dos minérios, vai se sedentarizar, regredindo de poderosos mineradores para fazendeiros, de trabalhadores mais pobres para trabalhadores rurais. Escondem-se no meio dos matos, procurando áreas de melhor cultivo.

Esgotado o impulso criador dos bandeirantes que se fizeram mineiros, toda a economia da vasta população do centro-sul entra em estagnação. Mergulha numa cultura de pobreza, reencarnando formais de vida arcaica dos velhos paulistas que se mantinham em latência, prontas a ressurgir com a crise do sistema produtivo. A população se dispersa e se sedentariza, esforçando-se por atingir níveis mínimos de satisfação de suas necessidades. (RIBEIRO p. 345-346)

Esse povo alcança certo equilíbrio econômico, consolidando-se numa variante da cultura brasileira. Essa variante é a cultura caipira, que identifica-se pela economia de subsistência, criação de animais, produçãoartesanalde bens de consumo, tempo reservado ao lazer, dialeto próprio... Segundo Ribeiro a região da Paulistânia “se “feudaliza”, abandonada ao desleixo da existência caipira”. Passa a inexistir um ciclo econômico vigente, bem como os latifúndios agroexportadores. Até mesmo as roupas são confeccionadas à mão, resistindo às manufaturas industriais. Não existe grandes mercados, nem nada que movimente o fluxo econômico do país; A produção é estritamente de subsistência; O modo de vida arcaico caipira nada lembra o modo de vida das cidades, cujo capitalismo industrial predatório anda lado a lado com a modernização estrangeira, impondo aos trabalhadores novas metas, horários, modas, ditando o ritmo de trabalho de cada um.
Ao contrário de que muitos pensavam, e ainda pensam, o povo caipira nada tinha de “preguiçoso”, como Monteiro Lobato o descreveu. É claro que na mente de grandes fazendeiros que, desejam incorporar o caipira em seus sistemas de terra e não obtiveram sucesso, pelo fato do caipira ser desajeitado no tocante aos horários e ao trabalho, vai haver um caipira extremamente preguiçoso, inútil, que só traz prejuízo e ocupa as terras que poderiam estar lhe dando mais e mais lucro.
Acontece que esse caipira desconhece esses sistemas, sendo que para ele, não há necessidade de produzir mais do que o pão para o dia seguinte. Com herança genética indígena, esse caipira costuma até ter horas de lazer, o que não existe na mentalidade dos operários, por exemplo. Em síntese, a mentalidade caipira está estritamente ligada ao seu modo de produção, que é totalmente arcaico, de subsistência e até mesmo despreocupado. Não gera nenhum fluxo considerável no comércio brasileiro. Diria até que, segundo o pensamento das elites, era uma economia que desperdiçava porções de terras e pior, não participava do mercado industrial e não comprava os bens de consumo do exterior, péssima economia para as políticas do Brasil.

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Que seja produtivo! Maldito! hahaha