Há
algum tempo andei por refletir mais profundamente sobre as prioridades que dominam o homem. Isso mesmo. Não é o
homem que possui prioridades, mas sim são essas quem possuem o homem e, por
conseguinte determinam suas ações em sociedade. Sendo assim, penso que esse
grande embate entre direita e esquerda, capitalismo e socialismo/comunismo, não
passa de uma grande questão de prioridades.

Como
todos sabem, é um período que coincido com o governo PT. Não estou defendendo o
PT, para deixar claro aos mais radicais que possam a vir me criticar por pensar
isso, mas é inegável suas ações referentes ao conceito de ascensão social.
Levando em consideração a questão de prioridades, e que a miséria não poderia mais ser ignorada, creio que o PT foi a melhor
escolha desde o governo Lula até o momento. Novamente ressalto que não estou
defendendo e apoiando as ações atuais do governo, pois me decepcionei muito
mais do que pensei que poderia.
Continuando
com a comparação, temos a capa da Isto É
de 2015 apresentando o seguinte título: O Sufoco da Classe Média, seguido pelos
supostos problemas que essa enfrenta: “escola, supermercado, gasolina e
refeição fora de casa”. Refeição fora de casa! “Credo que desgosto do Brasil”,
diriam os críticos mais reacionários (supondo que atingissem esse grau de
sutileza). Novamente devemos nos orientar pela questão de prioridades ao pensar
se estamos avançando ou retrocedendo. Há quem diga que prefere poder ter um vídeo-game de ultima
geração, ou um carro do ano a haver alternativas ao problema da fome e da
miséria que atinge, ainda, muitas pessoas. Nada contra os vídeo-games, pois
quem me conhece sabe que gosto muito, mas eu, sinceramente, prefiro não ter entretenimentos
do tipo, se a custo disso mais pessoas estarão dormindo sob um teto com
alimento em suas mesas. É questão de saber o que é prioritário para uma nação;
para a humanidade.
Há
quem diga que Cuba é um país pobre. Questão de prioridade, novamente. Uma nação
com a educação reconhecida recentemente como uma das melhores do mundo pelo
Banco Mundial não me soa como pobre. Uma educação que não é pautada no lucro
compulsório e sim num senso comunitário, transcendendo a lógica do mercado me
parece bem evoluída. Um exemplo de que Cuba não é o que muitos insistem em
pregar, é a medicina, que não é conhecida apenas pela qualidade, mas pela
amplitude de cobertura, agindo numa lógica de medicina preventiva e com
atendimento familiar. Mesmo após a “exportação” de mais de 30 mil médicos para
69 países, Cuba conta com uma média de 67,2 médicos para cada 10 mil
habitantes, a melhor média do mundo. O mais interessante é que desde cedo os
médicos cubanos são ensinados que sua missão é salvar vidas e não vender
serviços. São sempre os primeiros a oferecer ajuda a outros países frente a
catástrofes (inclusive aos EUA, no caso do furacão Katrina. Esses não aceitaram
a ajuda) e epidemias (recentemente contra o vírus do Ebola).
Outro
ponto interessante a destacar é a mortalidade infantil, que em 1990 era de 11 a
cada mil; em 2000 caiu para 6 por mil. Hoje é de menos de 5 por mil,
“ostentando” uma média melhor do que os Estados Unidos segundo a ONU e muito melhor do que a média da América
Latina. Nação pobre? Não. Questão de prioridades.
É
comum no Brasil ouvir críticas a situação atual da saúde e da educação, visto
que são pontos importantíssimos para uma sociedade e parâmetros fundamentais
para medir a o desenvolvimento e emancipação de uma nação. No entanto não há e
nunca houve espaços para uma lógica diferente senão a lógica do mercado, do
lucro e da concorrência. Quando Jango tentou sugerir que o país trilhasse um
caminho pautado em justiça social e numa sociedade organizada de forma mais
igualitária e racional, os militares tomaram conta (e o golpe não foi apenas de
dentro). Sabemos o que representou esse período para a democracia e para a
soberania do povo.
Com
isso, apenas quero dizer que o senso comunitário das pessoas está desgastado ou
nem existe, e que se não substituirmos essa cultura mercantilista que permeia o
âmbito da educação, da saúde, e até mesmo da economia, estaremos a andar pelo
caminho errado. Professor não vende educação; seus alunos não são clientes, são
sujeitos que devem ser educados com uma responsabilidade social, aptos ao
trabalho e a cidadania, tal como consta na lei. Médicos e enfermeiras não vendem
saúde e serviços médicos. Seguindo a ideia de David Marquand, ao forçar esse
tipo de relação na direção da lógica neoliberal, como se tudo fosse um grande
comércio, acabamos por degradar as instituições responsáveis pela cidadania. A
ética se esvai e só conseguimos pensar na lógica do dinheiro.
O
que eu quero dizer é que tudo é questão de prioridade, e isso, meu amigo, lá no
fundo pode definir seu caráter, queira ou não.
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Que seja produtivo! Maldito! hahaha