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Labi lasīt

sábado, 16 de fevereiro de 2013

Conto de Guerra e Liberdade - Capítulo 1






1770. Massacre Sangrento de Boston. Assim foi chamado um dos primeiros atos violentos contra os colonos, por parte das forças britânicas, e Paul Revere, o ourives, retratou isso muito bem em sua tela. A linha de frente dos mosquetes apontados agressivamente para o povo desarmado que, desarmado levava chumbo a queima roupa, foi crucial para uma propaganda contra os "Casacas-Vermelhas" e, posteriormente, para toda a Inglaterra. Foi muito importante, mesmo não retratando tão fielmente o acontecido.
Apesar do apelo emocional do quadro de Revere e toda a repercussão posterior, acerca do massacre, nem todos se importavam com isso. Para Cory McLaughlin, os acontecimentos da época não passavam de mera mesquinharia, tanto da parte de Massachusetts e das outras colônias, quanto da parte do rei Jorge III da Inglaterra e seus bajuladores. Ele não imaginava que seus conceitos e valores mudariam tanto. Irlandês de nascimento chegou à América ainda criança, apenas com seu pai, que viera para fazer dinheiro nas novas terras, pois o imaginário do paraíso que era para ser a América havia chegado à Irlanda como um surto de esperança. Bem, de fato, o velho McLaughlin fazia um bom dinheiro, que posteriormente acabava nas mesas de aposta e nas canecas de cerveja. O destino de Cory, até então, não tinha lhe mostrado nada que fosse muito diferente da vida do pai. Com o rosto coberto pela barba ruiva, metia-se em inúmeras brigas, apostando dinheiro, acreditando que a barba amorteceria sempre os golpes do adversário. Bem, após algumas pints (quartilhos) de cerveja, todos sabiam o que realmente amortecia os golpes. Vestia sempre as velhas calças marrom, velhas e surradas por dentro das botas que gostava de manter lustradas e limpas. Seu velho pai lhe ensinara, e sempre lhe dizia que um homem sempre deveria manter seus calçados limpos e brilhantes (no final havia sempre uma piada idiota que envolvia um leprechaun). Suas camisas eram típicas da época, "brancas" e com longas mangas avantajadas depois do cotovelo, com seu colete verde escuro por cima. Não menos importantes eram os importantes suspensórios que haviam acabado de chegar à cidade de Boston.
Cory dirigia-se à taverna mais próxima, enquanto reparava na rua toda a agitação decorrente da noite anterior. Os casacas-vermelhas não estavam tão confiantes. Sabiam que se quisessem continuar a marchar imponentes nas ruas, pagariam pelo feito de seus colegas da noite anterior, que, aliás, parecia que nem se encontravam mais em Boston. Se quisessem enfrentar o povo descontrolado, sabiam que teriam até os porcos da rua como inimigos e, naquele momento, não sabiam ainda se poderiam descer o chumbo em todo mundo ou esperar por ordens superiores da própria Inglaterra. Cory caminhava com uma postura estranha. Andava rápido, com as mãos segurando nos suspensórios perto dos ombros, pendendo para um lado e para o outro. Não era um andar cambaleante. Era mais para dançante. Aliás, "Riverdance" era um de seus passatempos. Dançava muito bem a música irlandesa e aproveitava-se disso para conseguir levar algumas mulheres para a cama.
Abriu as duas portas da taverna enquanto cantarolava alguma canção e quando se deu por conta, o local estava repleto de casacas-vermelhas. Estavam em posição inferior aos de mais ocupantes do local, acuados e desarmados. Havia um grupo de homens, alguns conhecidos de Cory, do tipo que cumprimentava quando passava ao seu lado na rua, mas os outros eram de fato de um nível social mais elevado, a julgar pelas vestimentas mais pomposas. Os mais simples seguravam os britânicos pelo colarinho branco do casaco, enquanto os outros conversavam. Surpreenderam-se todos com a entrada de Cory na taverna.
_John Carty! Seu miserável! - Gritou um dos homens mais bem vestidos que estava dentro da taverna em direção ao exterior do ambiente.
O tal John saiu de uma posição de guarda, do lado de fora da taverna, e, apressadamente entrou taverna à dentro se surpreendendo um pouco, pelos olhares do grupo para Cory.
_Você só tinha que manter os covardes lá fora!
_Mas eu... Eu... Eu nem notei. Ele entrou tão confiante. É sério. Parecia até que era um de nós. Não sei. Poderia estar atrasado. Eu realmente...
_Volte para lá e faça seu serviço como um homem! - Bradou o homem que estava sentado na mesa, mais isolado dos outros homens, então voltou o olhar para Cory – O que você quer aqui? Acha-se importante para ir entrando dessa forma?
_Olha Senhor – Falou Cory descontraidamente – Eu estava apenas atrás da minha bebida e resolvi entrar aqui. A cidade tá uma confusão e as tavernas do centro... Nem ouso chegar até lá. Demoraria muito.
_Pois bem...
_E continuando – Interrompeu Cory – Quanto a você me chamar de covarde... Eu poderia acabar com sua cara pomposa agora mesmo, claro... Se você não for pedir ajuda aos cavalheiros para acabar comigo. E nesse caso o covarde seria você.
O homem então se levantou, caminhando lentamente na direção de Cory. Com um olhar que dizia: "Que rapazinho petulante". Ao mesmo tempo em que caminhava tirava seu casaco maior e mais pesado.
_ Homens! Guardem esses ratos ali na dispensa, enquanto me acerto com esse aqui.
Vários homens do grupo então arrastaram violentamente os ingleses até uma porta, enquanto outros homens se dirigiam um pouco para perto do seu aparente líder, e de Cory.
_Senhor! Esse é o Cory McLaughlin! Filho do velho McLaughlin, o bêbado – Disse um dos homens. Era o vendedor do centro da cidade, que conhecia um pouco o pai de Cory. Ele tinha uma tenda na qual vendia Whiskey. Nunca lucrou muito, mas tinha muitos amigos, contatos e informações.
_Não podemos deixar que qualquer um entre aqui e nos desafie. Relaxe, só vou dar uma lição nesse rapaz. – Disse isso o homem que já arremangava as mangas.
Cory não pensou duas vezes. Alisou seus suspensórios, pôs seus pés a moverem-se rapidamente, dando pequenos pulos e a agitar os braços. O homem estalou as juntas dos dedos e fez um sinal de afirmativo para Cory. O início da luta foi de Cory. Logo de cara usou seus longos braços e tendo maior alcance, acertou em cheio o rosto do homem que caiu direto no chão. Cory nunca fora injusto em suas brigas. Esperou o oponente levantar-se enquanto continuava com o jogo de pés. Seu oponente, cauteloso, foi em sua direção, usou a esquiva para se aproximar de Cory, acertando-lhe o estômago, com dois socos em sequencia. Cory tomou distância e soltou a mão para cima do adversário, que se esquivou novamente e acertou-lhe um gancho no queixo. O homem com um riso sádico fez um sinal com as mãos, provocando Cory para cima de si. Cory se enfureceu e foi para cima do oponente, aparentemente, de maneira desengonçada, com os dois punhos à frente. No primeiro soco direcionado a Cory, ele esquivou com o punho esquerdo e contra atacou com o direito, num movimento muito rápido, movendo os dois punhos quase que simultaneamente. Então se aproveitou da surpresa e desferiu fortes golpes no queixo do inimigo e depois no estômago para não machucar muito seu “parceiro de briga”.
Foi uma briga bonita, em que todos os presentes se surpreenderam. Cory levou a melhor no final, mas os golpes que levou, certamente lhe causaram algum dano. Ajudou o oponente a se levantar, pois havia gostado da briga.
_Belo movimento aquele, rapaz. Você não é nenhum covarde. Tragam uma bebida a esse jovem. – Disse o homem que perdera a luta. - Me chamo John Gill, e como você pôde ver, não sou nenhum lutador, nem um homem das ruas. Sou sócio proprietário da Gazzetta de Boston. Nós somos os Filhos da Liberdade e estamos dando uma lição naqueles casacas-vermelhas que você viu antes. Alguns estavam envolvidos na matança de ontem.
_Muito bem. A bebida ainda vai vir? Só vou terminar a bebida e logo vou embora. Não me leve a mal, mas eu não me interesso pela política – Disse Cory direcionando-se a primeira cadeira que viu.
_Ora! Bem se vê que é muito jovem para isso, mas certamente não entende bem do que se trata a coisa como um todo. Que idade tem? – Disse Gill interessado em conversar com Cory, seguindo-o e sentando na cadeira do outro lado da mesa e fazendo um sinal para o taverneiro, que logo foi procurando um copo para servir uma bebida.
_Eu tenho vinte anos, mas não me tome como um tolo. Eu sei que ambos os lados brigam por dinheiro. Como política, o dinheiro pra mim não me interessa muito. A diferença é que do dinheiro eu preciso para poder comer e beber.
_Bem, então se surpreenderia se soubesse de tudo que está acontecendo por debaixo dos panos, e ainda mais, sabendo do quão a política vai ser importante para você comer e beber, daqui a poucos anos. Não é brincadeira, e também não me interesso em tentar prever o futuro. Apenas preste atenção no que eu lhe disser, e verás que é a mais pura verdade. Precisamos abrir nossos olhos nesses dias de caos. Esses porcos britânicos acham que são nossos donos. Eles não entendem que não somos mais ingleses. Somos americanos e não precisamos mais viver sob o jugo do rei. É simples. Nossa vida vai ser melhor se deixarem-nos em paz, e vamos continuar a prosperar. Qualquer um enxerga isso. Porém... Esses imperialistas desejam lucrar em cima do nosso povo para sempre pelo que parece, submetendo-nos a seus caprichos. Já fomos obrigados até a hospedar em nossas casas esses soldados. Você bem sabe como olhavam para nossas mulheres, e pior, coisas que aconteceram por aí. Eu mesmo não suportei esses porcos olhando para minha esposa e arrumei confusão com um deles (mais tarde, Cory descobriria que John Gill, na época da lei que obrigava os colonos a alojar soldados ingleses em suas casas, morava sozinho). Verdade seja dita, não precisamos da Inglaterra, e sim de paz. O problema, se é que posso chamar assim, de criar um filho, é que um dia ele cresce, e não vai mais querer ser sua criança. Ele adquire sua soberania. De uma forma ou de outra. Nós americanos precisamos da nossa... Quem sabe um dia...
A conversa foi longa. John Gill falava muito bem, era eloquente e escolhia as palavras com cautela, sabendo sempre onde estava pisando, prevendo cada passo e antecipando-se as reações de quem o ouvia. Era um homem de fato mais rico que os outros do grupo, mas era muito mais simples do que parecia. Suas expressões eram sinceras e seus trinta e oito anos marcados no rosto refletiam isso muito bem.







                                                                       ...


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Que seja produtivo! Maldito! hahaha