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Labi lasīt

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Conto de Guerra e Liberdade - Capítulo 2


Apesar de toda a fala envolvente de John, Cory fez exatamente o que disse que faria. Terminou sua bebida e logo se despediu, encaminhando-se para a porta.
_Bem, obrigado pela bebida, e, o que for que vocês estavam fazendo aqui dentro, vai ficar aqui dentro – Disse Cory, enquanto caminhava de forma evasiva, saindo da taverna. – Cuidem-se cavalheiros!
_Cuide-se você rapaz. E não se preocupe com suas palavras. Ninguém vai sentir pena desses porcos. – Disse Gill, sorrindo.
Nesse momento Cory deu as costas e alcançou a porta, e simultaneamente alguns homens olharam para John Gill de maneira a esperar alguma ordem. Ficaram a postos e preparados, porém Gill apenas levantou uma das mãos para os homens, tranquilamente, fazendo com que ficassem calmos novamente. Quando Cory saiu, passou por John Carty, o guarda que ficou olhando-o surpreso. Cory saiu tranquilamente, com as mãos nos suspensórios. Normalmente os Filhos da Liberdade não recebiam visitas desse tipo, e muito menos elas iam embora dessa forma.
Cory sabia que era hora de ajudar seu pai no serviço, pois se não estivesse lá, era capaz do velho beber mais licor do que conseguisse produzir, e isso era bem possível, tratando-se do velho. Os fortes licores dos McLaughlin eram famosos por seu sabor que lembrava muito o gosto de cada fruta. O licor de maçã, por exemplo, causava a sensação, para quem bebia, de estar tomando o próprio suco da maçã, porém forte e viscoso. Já, no entanto, não descia de maneira suave como as bebidas de melhor qualidade. Por isso eles faziam algum sucesso somente entre um pequeno grupo de bêbados e mercadores. Havia apenas um dono de estalagem que comprava os licores McLaughlin. Também não era o tipo de bebida para pedir repetição ao taverneiro. Normalmente depois do primeiro copo, a pessoa escolhia algo mais suave.
Cory morava na “Water Street”, onde havia um grande conjunto habitacional de irlandeses e descendentes desses. Encontrou seu velho pai no barracão ao lado da casa, com os caldeirões fervendo, enquanto engarrafava alguns licores. Ao lado havia um quartilho cheio de licor, no qual ele ia bebendo enquanto trabalhava.
_Hey! Não beba todo o licor!
_Ah, pro abismo, garoto! Quer ensinar seu velho a pai a trabalhar?
Os dois deram uma gargalhada. Cory deu um tapinha nas costas do velho e logo se pôs a ajudar nas tarefas. Já havia passado das quatro da tarde quando terminaram de engarrafar o licor que seria vendido. Então Cory colou as garrafas em uma espécie de mochila, cujo revestimento continha separações, para não deixar que as garrafas batessem uma na outra. Colocou a sacola nas costas e partiu para a cidade novamente para vender o licor que acabara de engarrafar. Os McLaughlin deixavam os licores em barris, até curtirem e ficarem ideais para o consumo – por mais que beber aquilo estivesse meio longe da palavra “ideal”.
Andou até o fim da Water, cruzou a Malborough e foi até a esquina que dava de encontro com a Treamount. Essa rua, se seguida em direção Norte, poderia levar até a King Street, ou reto até o Cemitério Público, o mais conhecido. Levou alguns minutos a mais, do que levaria apenas caminhando. Apesar de ser um caminho curto, parava para vender o licor em algumas casas. Eram os compradores de longa data e um deles, um vendedor ambulante que comprava algumas garrafas a mais e revendia ao sul. Tomavam mais tempo do que Cory gostaria. Parou no meio do caminho para acender seu cachimbo, porém alguém passou correndo trombando em seu braço, fazendo-o derrubar o fumo.
_Ei seu maldito! – Gritou Cory, enfurecido.
_Me desculpe! – Respondeu o homem que lhe trombara. – É que está acontecendo algo ali na Treamount! Vamos ver!
O homem continuou sua corrida. Cory se abaixou para pegar o fumo que caíra e continuou preparando o cachimbo. Dessa vez foi mais cuidadoso, escorando-se no muro, enquanto olhava para as pessoas que corriam apressadas para presenciar o acontecimento. Só depois de dar as primeiras puxadas e sair a fumaça, continuou seu caminho, que iria dar na Treamount. Não estava com muita pressa, apesar da curiosidade que começava a crescer.
Gravura dos caixões dos primeiros quatro que
              morreram no massacre, feita por Paul Revere
Quando atingiu a esquina se surpreendeu com o movimento que acontecia. O povo gritava e acompanhava das calçadas, uma marcha que vinha de longe seguindo a rua e que trazia muitas pessoas. Pouco a pouco, o povo se juntava à marcha. A turba era tão grande que ia até o campo de visão de Cory. Traziam tambores, repiques e alguns instrumentos de sopro. Gritavam palavras como, “liberdade” e “justiça”. Alguns também clamavam por sangue. Não demorou tanto para que o jovem percebesse do que se tratava. Eram os casacas-vermelhas que estiveram no massacre da noite anterior, e pode reconhecer que alguns desses eram os mesmos que estavam na taverna mais cedo, com John Gill e os tais “Filhos da Liberdade”. Algumas pessoas jogavam pedras neles, outros os xingavam, com variedades de palavrões. Os soldados e, inclusive, seu comandante Preston Thomas, vinham escoltados por soldados americanos e alguns milicianos locais. Estavam presos, com as mãos amarradas, e três dos cinco soldados estavam com as roupas esfoladas e com marcas de socos no rosto. Cory logo imaginou que eram os mesmos que estavam na taverna. Algumas pessoas que seguiam a escolta levavam placas com nomes escritos: Samuel Gray, Maverick Samuel, James Caldwell, Crispus Attucks, e Patrick Carr. Eram os nomes dos civis, vítimas do massacre da noite anterior. Logo atrás seguiam os caixões, carregados provavelmente por familiares e amigos das vítimas.
Os soldados britânicos estavam passando por maus bocados e, provavelmente, a situação só iria piorar. Há dois anos o rei Jorge III enviara cerca de quatro mil homens a pedido do governador Thomas Hutchinson, para manter a ordem nas colônias, principalmente em Boston. Ao contrário do esperado, o povo que já estava irritado com os impostos e as leis abusivas do governo inglês, acabou por se enfurecer mais ainda. Aí era só uma questão de tempo para a situação ficasse ainda pior. Se juntasse todas as leis impostas pelo rei, adicionasse quatro mil homens pelas ruas, marchando e pressionando os colonos, obrigando-os a alojar esses homens e, por fim, fervesse tudo com a raiva e indignação do povo, com certeza não haveria um final agradável. O resultado seria sangrento. As coisas iam mudar, aliás, já estavam mudando.
“Nada de surpreendente”, pensou Cory.



                                                                       
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Que seja produtivo! Maldito! hahaha