Cory decidiu então
seguir a multidão, afinal, seus compradores provavelmente não estariam em casa,
nesse momento. “O que poderia acontecer de diferente nesse dia? Além do que estava
acontecendo, claro.” – perguntou-se Cory. Acompanhou de longe a longa fila que
lotava a Treamount, enquanto observava alguns detalhes e pensava consigo mesmo:
“Eles devem ter ficado loucos. Será que acham que isso vai ficar assim? Prender
os casaca-vermelhas e executá-los por conta própria?” Dessa forma Cory
continuou o caminho, descrente no sucesso do povo de Boston, no que for que
estivessem pensando em fazer. Cory sabia, apesar de nunca ter estado em uma
batalha, que os soldados britânicos eram superiores a qualquer exército que até
então se tivesse ouvido falar. Os ingleses derrotaram até mesmo a “Invencível
Armada” espanhola. Eram superiores desde o treinamento até a questão do armamento.
Se eles resolvessem apelar para a violência, a situação complicaria para os
colonos americanos, inclusive para Cory. Ele e seu pai fabricavam o licor e
vendiam-no sem pagar as taxas exigidas pela Inglaterra, mas é claro, ninguém
sabia. Se a presença e a fiscalização inglesa aumentassem na cidade de Boston,
com certeza seus negócios seriam prejudicados.
Aos poucos a multidão foi
se aproximando da esquina que fazia ligação com a Rua Kings. Quando todos
dobraram a esquina, o início da turba estava em frente ao prédio central de
Boston. Lá se organizavam com os red-coats presos e os Filhos da Liberdade.
Cory então percebeu a presença de outros dois soldados ingleses do outro lado
da rua, escondidos entre uma viela, observando o que acontecia. Com certeza estavam
a espionar, pois não ousavam, no momento, enfrentar o povo enfurecido. Tinham
consciência de que o momento representava uma efervescência social muito
grande, o que poderia acarretar em acontecimentos muito maiores. Os dois
soldados observavam tudo, muito bem escondidos, já Cory, que também observava,
não estava escondido.
John Gill subiu então
em um palanque, seguido por alguns homens armados. Eram os milicianos. Ainda
não eram muito conhecidos, por constituírem um grupo pequeno, sem muitos
objetivos declarados, mal armados e que tinham não tinham como profissão a
guerra e a luta. Eram lenhadores, caçadores, ferreiros e fazendeiros. Formavam
uma milícia local. Seguiram John Gill, pois o acompanhavam durante toda a
caminhada. Cory imaginou que estavam do lado dos Filhos da Liberdade, ou que
até alguns poderiam fazer parte do grupo. Levavam os soldados presos e o seu
comandante, Preston Thomas, para cima do palanque, acorrentados. Preston
gritava coisas como “Vocês vão se arrepender!”, “Seus traidores petulantes!”,
“Vão se ver com o Rei!”. John Gill então pediu por silêncio. Esperou cerca de
um minuto até a maioria do povo entender que ele queria falar, então começou:
_Esses covardes, são os
responsáveis pelo massacre da noite anterior! Atiraram no povo desarmado e
indefeso a sangue-frio e não podem ficar sem julgamento!
O povo respondeu com
muitos gritos de reprovação aos soldados britânicos do palanque.
_Cometeram essa
atrocidade nesse lugar, onde vocês, trabalhadores pacatos, religiosos e
inocentes, estão pisando. Creio que é aqui que devem ser julgados!
Mais uma vez o povo
concordava com John Gill e pedia por julgamento dos soldados e seu superior.
Gill enquanto esperava pela manifestação do povo, observava a multidão de um
lado ao outro com astúcia. Pensava consigo mesmo “Enfim as coisas darão certo!
Dessa vez o povo está se juntando a causa, e olha só quanta gente!”, e enquanto isso, num relance, reconheceu Cory,
perto de um prédio, acompanhando com olhos curiosos tudo que acontecia. Cory
percebeu que John havia lhe identificado na multidão. Alguma coisa fez com que,
nos breves instantes que seus olhares se cruzaram, Cory apontasse para o outro
lado da rua, onde os dois soldados espionavam o acontecimento. Cory não
entendeu o porquê de sua intromissão, já que nada disso lhe dizia respeito.
John Gill logo mudou
sua expressão, de grandeza, para um olhar de preocupação. Perdeu-se durante
alguns segundos em seus pensamentos, olhando para o chão do palanque, e quase
que instantaneamente falou aos ouvidos de alguns homens que estavam por perto.
Deu-lhes alguma ordem, e esses desceram do palanque rapidamente,
desvencilhando-se do povo que dificultava sua passagem. Logo os dois soldados,
percebendo que haviam sido detectados e que estavam sendo seguidos, bateram em
retirada, rumo a uma viela. Nesse momento os milicianos já estavam correndo
atrás de seus alvos que corriam desajeitadamente por carregar seus mosquetes.
Aos poucos os perseguidores alcançavam os red-coats que se infiltravam cada vez
mais por dentro de pequenas e escuras ruas.
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Que seja produtivo! Maldito! hahaha